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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sorrir Natal

Porque ainda há quem creia
Que os sorrisos pequenos, (como aqueles que os amigos do Diário da África nos mostram)
Contagiam olhares maiores,
Este blog deseja a todos
Um Santo e Feliz Natal.



Estamos em crise, e o dinheiro escasseia.


Talvez os afectos surjam e apaguem a sede fútil de sorrir em conformidade com a economia.


Foto: Uma Foto Dois Sorrisos - Diário da África (diariodaafrica.blogspot.com)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Fatídico isto. Ainda assim, Amo-te.

Num sopro de vento senti-te um beijo
Rodopiei em passos de gigante,
Errante desmedida embriaguez.
Sente-me o aperto em sobejo
Respiro latente, ofegante,
Ausente, sentida lucidez.
Eu corro, tu foges,
Eu grito, a ti, em surdina.
Eu rastejo, tu trepas muros.
Alcanço-te fugaz
Efémero, incapaz de te deter.
Prometo nunca mais
Mas recuo

E volto a sofrer.

Fatídico o Amor

Foto: S/T - Ana Rita Rodrigues (www.olhares.aeiou.pt)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Desculpa a ausência, mas precisava olhar para mim.

Abri o espelho

(Precisava olhar para mim)
Procurei rumores,
Sabores vários
Outros, que não estes.
Saqueei apertos
Despertos, banais.
Renasci das cinzas
Cores reais.
Sepultei a semente
E brotei eu mesmo
Sorri, como nunca.
Colori o olhar
Porque com cores
Tudo ganha vida
E ganhou.
Estou vivo.
(outra vez)

Uma palavra de apreço a ti, pela espera.


Foto: Poesia no Olhar - Ivone Peoples - Euroafricana (www.olhares.aeiou.pt)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Um beijo num olhar.

Temos laços comuns
Passos dados em bruto
Sentidos perdidos
Algures.
O tempo sugou-te
Apagou a história
Procurou-te
No lugar errado.
Esperei imerso
Em rasgos de dor
Num sorriso invertido
Sem sabor a ti.
Perdi, mas venci os medos
São segredos que guardo.
Um dia dir-te-ei
Por que te guardei(.)
Um beijo.

Foto: O Tempo passa, o Amor não - Ana Rita Rodrigues (www.olhares.aeiou.pt)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Isento de mim

Fiz do papel marco da história
Fiz da lembrança forma de vida
Da retórica fiz-me ausente
Presente à saída.
Da memória,
De mim, de ti, de mais alguém,
De tudo o que detém o pensamento,

Refuto a dolência, rejeito o lamento.
Ateio um cigarro e do fumo faço escrita.
Esvai-se em latidos, remorso contido, isento.
Grito, galgo o desalento.
Eu aguento, isso e mais
Não me desfaz, somos iguais,
Invertidos, banais,
Indigentes, tanto faz.


Reescreveremos a história. Prometo.

Pungente esta gente que chora
A demora do adeus.



Foto: Chaga - Neurotic Vision (www.olhares.aeiou.pt)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

UM olhar feliz, apenas um.

Beijei-te o olhar
E guardei os sorrisos.
Somos um, apenas um,
Em volúpia de vento e mar.
Entranhamo-nos, estranhamente
E choramos a sorrir.
Procura-me, sempre,
Sou eu, ou outro (já dizia o outro, o tal que era outro ainda)
Mas tu reconheces-me
De entre os demais.
Recorda os momentos,
Refende os carpidos,
Sonega os lamentos,
Perdidos, em brumas de choro
Porque moro aqui,
Onde lateja,
O que sobeja do olhar.

Foto: Sombras da união - Caco Alves (www.olhares.aeiou.pt)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Este ou outro. Tanto faz.

Apenas um pensamento:
Somos sempre outros.
Na verdade somos uns,
Queremos ser outros,
E dizemo-nos outros ainda.
Nunca somos quem somos,
Estranho, fôssemos outros,
Quereríamos ser estes.
Porque estes seriam outros,
E os outros, estes,
seriam inferiores aos outros.

_______________________________

Um dia quero ser outro
E contentar-me com este
E não
outro.
Porque este é outro e por aí.
Hesito. (Às tantas já não sei qual sou)

Temos caras paralelas,
Embriagantes em sentido.
Sugamo-lhes a alma que não têm,
Limitamo-nos à troca
Que reconstruir não é condição.
Sufragamos, sorrimos ao ridículo
Somos parcos, morremos.
Fôssemos outros...
Tanto faz,
Morreríamos na mesma.




Foto: Máscara - João Oliveira (www.olhares.aeiou.pt)

sábado, 29 de novembro de 2008

Mesmo que em segredo...

Amo-te em segredo.
Porque em segredo te sinto.
Não digo a mais ninguém,
Porque custam as palavras.
Soletro os dias,
Em sentido único.
Escapam-me os medos
E submeto-me ao silêncio.
Não digo o que penso
Sequer penso o que digo
Mas em segredo penso
Em continuar a sonhar.
Sopra-me ao ouvido
Palavras de alento.
Rasga-me o peito
Sem pudores maiores.
Usurpa as palavras
Porque te pertencem.
E liberta-as
Para alguém as adoptar.
Não grites, sussurra.
Apenas se sentires,
Ama-me.

Mesmo que em segredo.

Foto: Na poeira do pensamento - Bruno Silva (www.olhares.aeiou.pt)

Paradoxo

Construímos um telefone,
Daqueles de outrora, infantes,
Com fio e dois copos opostos.
Falamos por ele
Porque por ele vibram as palavras.
Paradoxo,
Afastados entendemo-nos melhor,
(Sem o fio estirado nada chega ao ouvido)
Encurtamo-lo.

A vibração torna-se forte,
O som rasteja intrépido,
As palavras gritam.
Cortamos mais,
Ouço ecos,
Confundo os sons porque me soa a mais,
Estás perto.
Cortamos o fio ao limite…
Beijo.

Foto: "AMOR"......para ti!!! - Glover Barreto (www.olhares.aeiou.pt)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Acord(e)o - Para ler com muito boa disposição!

Um papel rasgado
Uma batuta em cordel
Palavras soltas
Presas ao papel
Uma melodia por musicar.
Um acorde em desacordo
Outros tantos de acordo
Em acordarem o acorde.
Um soneto dissonante
Ciente da sonegada desordem.
O maestro ordena austero
Sedento da pauta quebrada
Vai de compor o bolero
Com a minúcia esperada.




É tão mais colorida a vida musicada.

Foto: Filarmônica Afro IV - Milton Tonello (www.olhares.aeiou.pt)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O outro lado do Amor

O outro lado do amor
Tem mais cor
Tem tons de vermelho
Em golpes de dor.
O outro lado do amor
Tem saudade
Tem sorrisos
Sem cara-metade.
O outro lado do amor
Tem mais sal
Escorre no rosto
Num gesto bruto animal.
O outro lado do amor
Tem mais alento
Tem abraços austeros
A cada lamento.
O outro lado do amor
É mais seguro
Não há como escapar
Ostenta altos os muros.
O outro lado do amor
É mais acolhedor
Tem tudo
Tudo! (excepto amor)



Foto: Violência doméstica - Juliana Mafra (www.olhares.aeiou.pt)

(Tormentas) (de) aMO(R)-TE

Embalam-te feliz
Porque és objectivo
Vives sonhos
E materializas desejos.
Matam-te depois
Porque te tornam objecto
Sonhas viver
E imaginas sobejos
De amor.
Porque um dia foram essência
E pedido assertivo.
Contas com abraços
Mas lamentas

Espaços abertos,
Feridas ir(reais)

Que te deram de afecto.
Desfazes os sonhos
Porque sonhar te desfaz.
Desilusões à partida.
À chegada choras a sorte
Porque num dia sorriste
E noutro sufragaste
Tormentas de morte.


Foto: Diga não à violência - Luciana Moreira (www.olhares.aeiou.pt)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Compõe e encanta.

Vives em sonhos que te atormentam os dias.
Sonhas viver-te, ser-te e encontrar-te.
Flutuas, em realidade, paralela ao que te prende.
E prendes-te a realidades passadas, por ultrapassar.
Grita! Canta! Desafina e incomoda os demais!
Cansa-me ver-te agonizar.
Cansa-me ver-te em altares, imaculada em imposição.
Olhas sem horizontes, porque te encravaram espinhos.
Viraste rosa perfeita e sentiste o aroma da dor.
Arrancaram-te da terra e fizeram-te arranjo...
Parte pratos, parte prantos, parte para outra!
Compõe um sorriso e canta-o, encanta-o e deixa-te encantar.
Estou aqui…

Foto: Voa Borboleta - Nobre (www.olhares.aeiou.pt)

Lda. Um agradecimentos/reconhecimento concreto

Subjugamo-nos às regras da Física. Esquecemos as Químicas e padecemos solitários.
Já tiveram momentos de alegria invejada e amaldiçoada com olhos de bala e palavras incandescentes? Já tentaram fazer bem e sentiram o sofrimento desesperado da procura infrutífera do vosso fracasso? Eu já... E sabe tão bem... Quando nos esperam do lado derrotado e o empenho nos impede de chegar sequer perto.
Para todos e cada um, um sentido obrigado. Os que apreciam, por isso mesmo, porque sentem como nós, os que esperam sem sucesso pela reciprocidade dos lucros, por nos alegrarem os dias e nos elevarem o ego.
Hoje termina um ciclo, chega-se ao fim de um objectivo atingido e sobrelevado à categoria de mito. Hoje descansam heróicos mentores e fazedores de sonhos. Hoje sorriem atónitos, sós e aturdidos de tanto para tanto. Hoje questionam-se esforços e retornos.
Como pode ser justo o esforço de séculos proporcionar apenas dias de glória? Como pode ser justo o esforço empenhado de tantos momentos ter, de regozijo, momentos apenas?
Cogitamos, com a antecedência da perfeição, para um sorriso tão preciso.
Talvez porque os momentos terminam mas vincam lugar e marcam território na lembrança.
Há muito que limito os actos ao essencial, porque há muito as forças estão racionadas. Contarei algo mais reflexivo num dia de esbanjo, onde o que se eleva não encontra limites.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Fica para amanhã ou depois.

Hoje estou cansado,
Estou mesmo muito cansado.
Que me desculpes tu que esperas mais
Que me perdoes as ausências
Mas isto de acordar cansa.
Vou procurar roubar tempo ao tempo
E fazer-me útilidade
Vou deixar-me reabsorver
E roubar-me ao marasmo.

Bem, amanhã ou depois
Dir-te-ei alguma coisa,
Porque hoje nada me sai.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Da minha janela

Acordas os dias sem regra,
Sem horas nem compromissos.

Remeteram-te aos papéis sociais
Que se firmam nessas quatro paredes.
Paredes velhas, pob(d)res
Onde o tecto é tecto
E o chão ruiu.
Vives um mundo de sonhos
Sonhos que apagas à janela
Porque dela avistas vidas
Vidas como as paredes que te cercam.
As mesmas que te deitam no chão
Porque comes o que te dão
E não o que te sacia.
Vives no sorriso dos teus
Porque os teus te pertencem,
Te garantem alento

E incitam ao sonho outra vez.
Sonhas o que não tens
Porque a regra assim o dita.

Receias o futuro
Que por ora não existe.
Limitas-te a um presente
Que te escapa entre os dedos
Mas resistes sem medos
E esperas por mais
Porque ainda acreditas
Em sonhos reais

“Sempre sonhei que escreviam sobre mim.”

Para Carmen en el Chile

Foto: s/t - Gui Mota (www.olhares.aeiou.pt)

sábado, 15 de novembro de 2008

Eu até sou de pormenores.

Caminhava eu por terras de Leste.
Apreciava cada recanto, até porque sou de pormenores. A mim, salta-me à vista o que menos se vê.
Para mim, tudo é mais belo fora do compreensivel. Não que não aprecie o que me cerca, - aliás, sou um acérrimo defensor do que é meu - mas o que não é nosso é estranho, por vezes bizarro. Poderá até não ser mais belo, mas chama a atenção. Adiante.
Mirava tudo, cada pedra fora do lugar, cada prédio arquitectonicamente impossível, cada estrada mal denominada, cada grau Celsiu a menos.
Num dia de frio, como aliás são quase todos naquelas paragens, vi o que provavelmente fora o momento mais marcante da minha vida.
Do vidro de um autocarro, fitei, por segundos, o meu maior professor, com quem pouco aprendi por demérito próprio.

Passeava em equilíbrio, num lancil, descalça.
De um lado escapes, do outro os restos de vidas alheias.
No corpo, um trapo velho de acalentamento precário,
Permeável ao calor de cada grau Célsiu a menos.
No braço, alimento: um pedaço de pão com aroma a si mesmo.
No rosto, a indiferença do mundo real.

Esvoaçavam-lhe os cabelos, canudos sujos de uma beleza terna.
Aquele ser de meio palmo vergou-me ao ridículo.
Seguia contente num compasso incerto, mas firme.
Despojou-me de tudo e molhou-me o rosto.

Seguia com o objectivo do equilíbrio
Ausente do que existe em redor.
Ignorava que muitos dos que a rodeiam distribuem o seu apreço pelas coisas de forma diferente.
Seguia sozinha e sorria para ninguém, de objectivo cumprido.
Não sei o desenrolar da história, mas certamente que o lancil findou
Mas ela de certo encontrou outro desafio para superar.
Um desafio maior, ao nível do seu tamanho.

Com certeza preservou tudo o que não tinha
E se desfez do que por ela passara.
Com certeza agradeceu cada pedaço de alimento,
Como se fosse único... quem sabe(?)...

Com certeza cada cor seria linda,
Quando num qualquer outro trapo menos permeável.
Com certeza qualquer pedaço de qualquer coisa lhe calçaria a alma
E lhe apagaria as pedras soltas do caminho...

Um trapo velho, um pedaço de pão e um percurso. Nada mais...
E um sorriso no olhar.

Perdi o melhor ensinamento, mas guardei a lição, para um dia rever...

Até porque sou de pormenores
Mas por vezes escapam-me.

Foto: Pobre menininha - Polly Costa (www.olhares.aeiou.pt)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Hoje não vou escrever.

Hoje não vou escrever.
Hoje vou evadir-me e descobrir os pormenores. Ver o que conheço com a perspectiva em precisão.
Vou a lugares comuns, ver coisas banais e torná-las essência.
Hoje vou pisar outro chão, sentir-lhe a firmeza. Porque este é diferente, hoje será.
Hoje vou dar passos certos, serenos e sábios.
Vou ampliar os sentidos, ao nível do suportável e ver um mundo diferente, o mesmo de sempre, mas diferente.

Hoje vou pintar...

Até porque não me apetece escrever.



Amanhã falo de pormenores.

Foto: Vamos pintar? - Maria Ivone (www.olhares.aeiou.pt)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Saudade sem pátria.

Do lado de cá, onde nada se avista, tudo está mais perto, tudo é mais nosso.
Do lado de cá, onde nada temos, tudo se ganha, tudo nos pertence como nunca.
Do lado de cá, os raios de sol são neve, que aquecem e alentam. O mar eleva-se e torna-se tecto, de onde vejo verde, de um branco, tão meu.
Absorvo-me de ideias e lembranças. Seco o rosto.
Do lado de cá tudo é diferente! Tudo corre, tudo grita e ninguém ouve.
Vivo em altitude, numa latitude menor. Absorvo-me.
Procuro o silêncio, o meu, aquele que há muito não escuto. Sinto-lhe a falta.
É daqui que sinto isto.
Assola-me a mente tamanha vastidão. Um horizonte sem termo, um mar sem fundo, um ar tão quente, um sol tão presente num mundo tão diferente de mim.
Desprendo-me e prendo-me ainda mais, ao que é meu por direito. Solto a raiva.
Aqui tudo é mais quente, mas eu sinto o frio. Não o meu, um outro que me pespegaram. O meu frio não é frio.
Um dia vou aí. Um dia procurar-te-ei porque ainda aí estarás. Afinal sempre me pertenceste, por mais distante que estivesse de ti. Serás sempre Terra, chão firme e certo, texto escrito por ler. Sorrio.
Do lado de cá, tudo é mais belo, porque na lembrança habitam escolhas, não ordens. Sou livre por estar preso… aqui.
Do lado de cá, passeio cadernos, livros de uma história que bebi, mas não vivo. A minha história fez-se aí e aí terá fim.
Aqui sente-se mais… um não sei quê de sentimentos sem termo no meu país, com pátria noutro lugar.

Do lado de cá, onde nada se avista, tudo está mais perto, tudo é mais nosso.

Um dia vou aí.
E termino esta história.

To Raja from Nepal in Australia.
Foto: Surfista em meditação - Pedro E.G. Guedes (www.olhares.aeiou.pt)

Tão português...



Sinto

Aperto...

Uma

Dor

Amarga,

Desesperada,

Eterna...




Sinto saudade.
Foto: Janela para o infinito - Rui Ivo (www.olhares.aeiou.com)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um olhar menor - Para ler com extraordinária boa disposição.

Eu peguei no azul
E pintei um país
Pintei do Norte ao Sul
E pulei feliz.

Eu peguei no laranja
Para pintar um macaco
Cortei-lhe a franja
E deitei-o num charco.

Eu pequei no verde
E pintei um rio
Mas tinha tanta sede
Que o bebi de fio.

Eu peguei no encarnado
Para pintar o jardim
Ficou tão engraçado…
Vou deixá-lo assim.

Eu peguei no roxo
Para pintar as pessoas
Pintei um homem coxo
Depois ouvi das boas.

(Não parei de pintar
Não fiz nada mal!
Disse-lhe para esperar
Pela pintura final.)

Pintei tudo à volta
À minha maneira
Deixaram-me à "solta"
Foi só brincadeira!

Com olhares menores
É mais engraçado
Um Mundo de cores
Com tudo trocado!


Por fim peguei no rosa
Para pintar o meu dia
E com um texto em prosa
Pintei poesia.

Foto: Lápis de cor - Daniel Wiedemann, (www.olhares.aeiou.pt)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O meu avô é velho.

O meu avô é velho, antigo, idoso.
Acumulou vidas, de estórias de uma história sem intervalos.
Acumulou vidas, emoções.
Trilhou caminhos de um saber atroz.

Ser velho é saber mais.
De um saber que não se aprende nos livros, mas que tantos livros deu. Livros editados num papel que só o velho sabe ler.
Ser velho é falar de cor, numa certeza de pleno e paixão. É ser índice, conteúdo, bibliografia e valor.
Ser velho é olhar e verdadeiramente ver, com a certeza dos sábios e a sinceridade dos infantes.
É, mais que o acumular dos anos, o preservar de imagens e sons que a Terra cantou.
É virar páginas numa leitura certa e ludibriante na diagonal.
É delinear cada curva que a vida impôs, na expressão sincera de uma ruga, na voz da objectiva que um dia se apagará de cansaço e dor.

Quantas imagens passaram por este olhar?
Quantas palavras romperam estes lábios?
Quantos sussurros beijaram estes ouvidos?
Quantos aromas invadiram este nariz?
Quantos soslaios arrombaram esta pele?

Estima,
Por este livro antigo, que afinal,
É apenas velho.

Foto: autor desconhecido

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

És linear. Ainda assim, amo-te.

Por entre tamanhas sinuosidades
És linear.
És o que vejo.

Vejo o que cantas,
Porque sou o que escuto.
Tu não me levantas
Mas sabes que luto
Por ti
Por mais ninguém
Porque só por ti
Nada me detém
Desta vontade de mais
De pura ilusão
De sentimentos reais
De um pedaço de chão.

O vento leva-te
E mata a lembrança.
O sonho devolve-te
E eu retomo a dança.

Num fôlego audaz
Que de fraco se apaga.

(Talvez seja fugaz
Ou talvez ele te traga.)


Foto: S/T - Gui Mota (www.olhares.aeiou.pt)

Refúgios

Hoje passei por uma criança que corria pela rua.
Olhei para ela e o tempo parou.
Julgo que não reparou no meu olhar atento.
Julgo que para ela este momento sequer existiu.
(Recordações do tempo em que os momentos eram nossos.)
Segui-lhe os passos.
A meio do caminho, ela olhou pelo ombro mas,
Definitivamente, aquele era tão somente o meu momento.
Porque o dela era outro.
Sorri.

(Estranho.
Como pôde este momento ser só meu?)

Voltei a seguir-lhe os passos, sem alguma vez recusar a gravidade.
Aquele que antes era um ser pequeno ficou maior,
Porque o tempo é enzima e a memória, alimento.
Por instantes voltei a ser maior,
Voltei a ser pequeno... mas maior.
Apoderei-me da grandeza dos seus passos
E fiz-me seu autor.
E nos caminhos dos sentidos revi(vi).
Agora sim, vou ser feliz,
vou lembrar-me de nada que realmente importa,
vou sorrir de tudo o que não tem graça,
vou cantar o que não é cantável,
vou escutar o que mais ninguém ouve...

Mas ela mudou de rua,
E eu perdi-lhe os passos...

Foto: Vanish Memories - ®gonçalves (www.olhares.aeiou.pt)

domingo, 9 de novembro de 2008

Hoje acho que vou ser feliz.

Partilho vivências, construções diárias de tudo o que me atropela.

Hoje fui atropelado.
Por um sol descontextualizado.
Por uma brisa que não é daqui.
Hoje fui atropelado e permiti-o!
Acordei feliz, sem pressas, sem rodeios, sem tons de cinza.
Percorri os meus passos,
E redescobri-me!
Olhei o céu e o canto voava, alegre.
Então voltei a um lugar comum,
Que me prende mais que o aceitável.
Obriguei-me a pensar, a sentir.
Mas hoje não quero!
Neste momento não quero.
Neste momento limito-me a escrever,
Sem sentidos, sem preciosismos.
Apetece-me enumerar tudo que penso,
Sem emendas, sem retornos.
E é o que vou fazer,
Quando me sentir feliz.

Não lamento o que escrevo, antes o que penso,

Mas prendo-me às ideias, porque os ideais já foram.

Foto: Gaivotas - Gui Mota (www.olhares.aeiou.pt)

sábado, 8 de novembro de 2008

Vive outra vez! - uma revolta social.

Acordas todos os dias àquela hora,
Aquela que mais ninguém conhece,
Aquela que para os outros
Existe na horizontal.
Retomas rotinas, bacocas,
Fatídicas de repetição.
Segues os dias sem novidade,
Sem nada de novo.

Existe um estendal.
Nele estendes os dias,
As vivências dos outros,
Que se despem de vaidade,
E se vestem da vontade,
Das rotinas que tu desprezas,
Porque te despiram,
De desejo e de saudade.




Grita mulher!

Foto: Vermelho - Gui Mota (www.olhares.aeiou.pt)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Não é melhor. Simplesmente existe.

Ouço uma guitarra que não toca,
Aprecio uma voz que não soa,
Limito-me à velocidade dilacerante do pensamento,
Limito-me ao descontrolo do batimento cardíaco...
Absorto, prendo-me ao imaginário,
Liberto-me e durmo, sonhando acordado, sorrio para ninguém...
Um ninguém que conforta,
Que liberta e nos prende a isto um pouco mais.
Continuei sentado, no mesmo local onde não existe horizontalidade,
Onde o chão é céu e o céu se apaga.
Continuei aqui,
Porque aqui me sinto como não me sinto em qualquer outro lado.
Não é melhor, simplesmente existe.
Talvez um dia tudo recomece como se nada existisse para trás.
Alimento-me de ar e sonhos,
Um ar irrespirável,
Sonhos jamais sonháveis.
Não alegra mas alimenta...
Talvez um dia a guitarra soe
E a música se escute numa simbiose perfeita onde o que existe, existe
E o imaginário se reencontra
E se funde num misto de realidade e dor.
Talvez um dia o céu reapareça
E o chão enrijeça perante a abruptidade dos medos.
Talvez um dia.
Foto: Promessas junto ao mar - Paulo A. (www.olhares.aeiou.pt)

Sigo livre

Sigo os dias
Sem vivências passadas
Nem pretenções futuras
Que me prendam
Ou me não deixem ser rei e senhor
Dos actos sem intenção ou propósito.
Sigo sem pressas nem vidas
Que não conheço, que não vejo ou sinto.
Sigo ao sabor do vento, da chuva,
Tempestades vagueando em sonhos perdidos
Num qualquer lugar isento dos ivas que o mundo tem...
Sigo livre...
Mas esqueço ideais.

E porque não?

Percorri todo este caminho
Nunca olhei para trás.
Porque te sei aqui,
Como soube outrora, sempre.
E porque não?
Seguir-te-ei, porque sei-te aqui,
Como soube outrora.
Segues numa linha ténue.
Procuras o medo em vão,
Porque tu pregas,
Num silêncio mordaz.
Em vão me escondo dele,
Porque eu calo
Num grito incapaz,
De mais e de ti.
Seguir-te-ei, sempre.
Porque sei-te, como sempre soube,
Aqui.
Foto: Seria um Sol? - Amanda (www.olhares.aeiou.pt)

Porque um dia trepei e caí.

Diz-me. Porque me prendo pelo fio mais frágil.
Sem que se parta como quero e desejo?
Nos segredos de um infinito subtil,
Que me deixa inútil, indefeso,
Quais muros me cerca do ponto mais alto?
Quais muros sufocantes ilusões?
Qual liberdade perdida, qual espaço esvaido...
Em recordações.
Quis sentir o sussurrar da lua,
O suave murmúrio do vento.
Os segredos da mente, tua
Perdidos em cada momento.
Senti o pulsar do desprezo,
Num abraço redondo em si,
Entre imagens de um beijo preso,
Absorto, não penso em...
ninguém.
Foto: ...prisão em si!... - António Maia (www.olhares.aeiou.pt)

SussurroSemMim

Na verdade, por vezes em mim, outras Sem mim.
Sussurro, como todos sussurram.
Sem pretenção nem razão que o justifiquem.
Sussurro porque sim,porque, pura e simplesmente, o posso fazer.
Este será o meu espaço.
Partilho-o com quem mais tiver um pouco de loucura consentida.