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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Refúgios

Hoje passei por uma criança que corria pela rua.
Olhei para ela e o tempo parou.
Julgo que não reparou no meu olhar atento.
Julgo que para ela este momento sequer existiu.
(Recordações do tempo em que os momentos eram nossos.)
Segui-lhe os passos.
A meio do caminho, ela olhou pelo ombro mas,
Definitivamente, aquele era tão somente o meu momento.
Porque o dela era outro.
Sorri.

(Estranho.
Como pôde este momento ser só meu?)

Voltei a seguir-lhe os passos, sem alguma vez recusar a gravidade.
Aquele que antes era um ser pequeno ficou maior,
Porque o tempo é enzima e a memória, alimento.
Por instantes voltei a ser maior,
Voltei a ser pequeno... mas maior.
Apoderei-me da grandeza dos seus passos
E fiz-me seu autor.
E nos caminhos dos sentidos revi(vi).
Agora sim, vou ser feliz,
vou lembrar-me de nada que realmente importa,
vou sorrir de tudo o que não tem graça,
vou cantar o que não é cantável,
vou escutar o que mais ninguém ouve...

Mas ela mudou de rua,
E eu perdi-lhe os passos...

Foto: Vanish Memories - ®gonçalves (www.olhares.aeiou.pt)

1 comentário:

DaiSantos disse...

Somente quando nos deixamos levar pelo vazio da "maturidade" é que nos damos conta do preenchimento da infantilidade. Bela reflexão Sal Ober... E se um dia conseguissemos conciliar a consciência da realidade com a criança que há dentro de nós, haveria limites? Acho que não... :)