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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Saudade sem pátria.

Do lado de cá, onde nada se avista, tudo está mais perto, tudo é mais nosso.
Do lado de cá, onde nada temos, tudo se ganha, tudo nos pertence como nunca.
Do lado de cá, os raios de sol são neve, que aquecem e alentam. O mar eleva-se e torna-se tecto, de onde vejo verde, de um branco, tão meu.
Absorvo-me de ideias e lembranças. Seco o rosto.
Do lado de cá tudo é diferente! Tudo corre, tudo grita e ninguém ouve.
Vivo em altitude, numa latitude menor. Absorvo-me.
Procuro o silêncio, o meu, aquele que há muito não escuto. Sinto-lhe a falta.
É daqui que sinto isto.
Assola-me a mente tamanha vastidão. Um horizonte sem termo, um mar sem fundo, um ar tão quente, um sol tão presente num mundo tão diferente de mim.
Desprendo-me e prendo-me ainda mais, ao que é meu por direito. Solto a raiva.
Aqui tudo é mais quente, mas eu sinto o frio. Não o meu, um outro que me pespegaram. O meu frio não é frio.
Um dia vou aí. Um dia procurar-te-ei porque ainda aí estarás. Afinal sempre me pertenceste, por mais distante que estivesse de ti. Serás sempre Terra, chão firme e certo, texto escrito por ler. Sorrio.
Do lado de cá, tudo é mais belo, porque na lembrança habitam escolhas, não ordens. Sou livre por estar preso… aqui.
Do lado de cá, passeio cadernos, livros de uma história que bebi, mas não vivo. A minha história fez-se aí e aí terá fim.
Aqui sente-se mais… um não sei quê de sentimentos sem termo no meu país, com pátria noutro lugar.

Do lado de cá, onde nada se avista, tudo está mais perto, tudo é mais nosso.

Um dia vou aí.
E termino esta história.

To Raja from Nepal in Australia.
Foto: Surfista em meditação - Pedro E.G. Guedes (www.olhares.aeiou.pt)

5 comentários:

annie disse...

your photography is stunning

Anónimo disse...

Legal conhecer tua obra por meio do Luso-Poemas!
Parabéns pelo talento com as palavras, pela sensibilidade artística!

Abraços

annie disse...

I think that I have done what you wanted

Pri Ramalho disse...

Ai, se o mundo tivesse mais gente com essa sensibilidade... Lindo texto, parabéns!

Poeta Carlos Gargallo disse...

Oi, em primeiro lugar, agradecer a sua visita e suas palavras no meu blog. Li o teu, eu adoro. Parabéns. Um abraço.